19.10.09


Esta semana, um casal da cidade de Dundee, na Escócia, perdeu na Justiça o recurso para reaver a guarda dos filhos, de 3 e 4 anos. Os pais, cujos nomes não são divulgados por motivos legais, estão sendo punidos porque as crianças caminhavam perigosamente para a obesidade mórbida, assim como os outros 4 irmãos mais velhos (a família está na foto ao lado). Aos 3 anos, a criança pesava 25 quilos. O irmão mais velho, de 12, tem 100 quilos.

Antes de tomar a drástica medida de tirar os filhos do casal, o governo escocês incluiu a família em um programa de emagrecimento. O tratamento, que custou algo em torno de 350 mil reais, tinha acompanhamento de nutricionista e médico e previa exercícios físicos. Como, mesmo assim, a família falhou em atingir a meta de perder peso, as crianças mais novas, por decisão legal, passaram à custódia do Estado.

Em entrevista ao jornal The Times, em setembro, a mãe mostrou-se devastada com a separação: “Eu me sinto desamparada. Sinto como se o serviço social desse todas as cartas. Mas eles são minhas crianças e eu as amo, e não vou deixá-las ir sem brigar”.

A advogada da família alega que todos estavam fazendo progressos na perda de peso, as crianças estavam fazendo esporte, e que a decisão da Justiça foi arbitrária. O Estado, de outro lado, argumenta que recomendou a cassação da guarda porque havia outros problemas na família além do peso, mas não cita detalhes.

Uma reportagem da revista Time cita o caso de uma americana que, em maio, perdeu a guarda de seu filho, de 14 anos e mais de 250 quilos, e foi presa acusada de negligência, e lembra que outros pais, tanto nos Estados Unidos como no Canadá, perderam a custódia dos filhos por conta da obesidade mórbida.

Eu, que nunca tinha visto nenhuma notícia sobre o assunto, fiquei um tanto aturdida com essa postura legal. Que os pais são os principais responsáveis pelos hábitos alimentares dos filhos, não há dúvida. Mas falhar, ou seja, criar filhos obesos mórbidos, com risco de desenvolver diabetes 2 e outras doenças crônicas, deve ser visto como negligência? Se é negligência, deve ser punida com a perda da guarda ou mesmo com a prisão?

Sinceramente, não sei. Fico imaginando a criança sozinha no abrigo, sem tudo de que ela mais gosta. Será que, depois de ficar longe, tanto dos pais como da comida, em uma situação traumática como essa, ela vai conseguir levar adiante hábitos saudáveis para ter uma vida normal?

Sem nem mencionar a questão da intromissão do Estado na vida particular dos indivíduos, fiquei pensando se a atitude com os obesos não chegava à discriminação. Tantos pais e mães fazem coisas tão horríveis com os seus filhos, coisas que deixam marcas profundas na mente das crianças, que me pergunto se não vamos acabar criando um contingente de filhos do Estado em algum momento no futuro. A matéria da Time, por exemplo, questiona se os próximos punidos serão os pais das garotas anoréxicas




A polêmica global sobre a silhueta anoréxica das manequins e modelos - além das atrizes, que seguem cada vez mais o mesmo padrão - parece não ter fim. Primeiro foi o uso exagerado do photoshop num anúncio da grife Ralph Lauren, em que a garota-propaganda foi tão afinada que tornou-se uma imagem grotesca, com a cabeça mais larga do que sua cintura (veja na foto acima). A modelo, Filippa Hamilton, foi demitida por estar acima do peso, e esteve em vários programas de televisão dos Estados Unidos e da Europa mostrar seu corpo longilíneo e com tudo em cima, e falar de como se sentia ultrajada por ter sido jogada fora.

Na semana passada, foi a vez do estilista alemão Karl Lagerfeld criticar a revista Glamour, que anunciou que não mais usaria modelos esqueléticas em suas páginas. Preferiam usar mulheres que criassem identificação com as leitoras. Lagerfeld bradou contra a decisão. Disse que o mundo da moda é feito de ilusão e fantasia e que “ninguém quer ver mulheres cheinhas”. Mais: “Só mulheres gordas que ficam comendo suas batatas fritas na frente da televisão dizem que modelos magras são feias”. A coisa esquentou.

E neste fim de semana, passou a frever, quando a especialista em distúrbios alimentares Irene Rubaum-Keller escreveu uma coluna no site americano Huffington Post que “só homens gays acham atraentes modelos magérrimas”. Em seu artigo, Irene comenta os últimos acontecimentos. Sobre Lagerfeld: “Ilusão e fantasia são maravilhosos na ficção, mas não quando se trata de gente de verdade, de mulheres que passam fome e que muitas vezes mal conseguem ficam de pé”.

A declaração repercutiu em outras colunas, sites e blogs de comportamento. A maioria contra a magreza das modelos, mas certamente contra o preconceito que veio a reboque das palavras de Irene Rubaum-Keller. Como especialista em distúrbios da alimentação, ela certamente vêm com olhos ainda mais preocupados do que os nossos o rumo em que o mundo da moda está levando suas profissionais. Mas perde totalmente a razão quando brada contra os homossexuais. Como bem foi dito no site Jezebel, que repercutiu a história, o universo fashion é composto de mulheres e homens, hotero e homossexuais. Se há estilistas gays, há também muitas mulheres que fazem sucesso com suas coleções e ajudam a criar o padrão de magreza que hoje estarrece o mundo. Talvez ela tenha mirado em Lagerfeld - que também poderia ter sido mais sutil -, mas acabou acertando no que não devia.

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